sexta-feira, 16 de julho de 2010


De vez em quando, é verdade, eu pensava em Mona, não como uma pessoa num determinado tempo e espaço, mas isolada, destacada, como se tivesse explodido numa grande forma parecida com uma nuvem que obscurecia o passado. Não me permitia pensar nela por muito tempo, senão pularia da ponte. É estranho. Eu tinha me acostumado tanto àquela vida sem ela mas, se pensava nela só um instante, já penetrava no osso e na medula da minha alegria e me jogava de novo no esgoto agonizante do meu miserável passado.
Passei sete anos com uma só coisa na cabeça, dia e noite: ela. Se houvesse um cristão tão fiel ao seu Deus quanto eu a ela, hoje seríamos todos Jesus Cristos. Dia e noite eu pensava nela, mesmo quando a estava enganando. (...)
Quando sinto que ela foi embora, talvez para sempre, abre-se um grande vazio e sinto estar caindo, caindo, caindo no espaço profundo e escuro. E isso é pior do que chorar, mais do que se arrepender, sentir dor ou tristeza; é o abismo onde Satanás mergulhou. Não há como voltar, nenhum raio de luz, nenhum som de voz ou toque de mãos humanos.
Quantas milhares de vezes, andando por aquelas ruas à noite, pensei se algum dia ela voltaria para mim.

Henry Miller.

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