sexta-feira, 24 de julho de 2009

Do Desejo.

Ver-te. Tocar-te. Que fulgor de máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara
Como os frisos veementes dos tapetes antigos.
Que sombrios te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo: um desejo
Sem dono, um adorar-te vívido mais livre.
E que escura me faço se abocanhas de mim
Palavras e resíduos. Me vêem fomes
Agonias de grandes espessuras, embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te.
Cordura.
Crueldade.

Se eu disser que vi um passáro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não fosse verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um passáro
Voando sobre o Tejo. Porque não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora.
E tudo isso em nós que se fará disforme?


Colada à tua boca minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer.
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.

( Hilda Hilst ).

2 comentários:

Ana Moraes disse...

Muito massa, Júlia tem como você postar as outras obras de Hilda? amavisse, por exemplo eu não consegui encontrar

Gadê. disse...

Ah Ana, podeixar que eu vou postar os delas sempre que possivel. obrigada. ;*