segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Alma completa.

Desde sempre dizia que morreria solitário, que seu corpo seria velado por desconhecidos, e o caixão pago antes mesmo da morte. Não que houvesse nele alguma anti-sociabilidade, mas tinha uma necessidade maior de relações sociais mais concretas, mais sinceras, e todas as suas, ao que parecia, tinham quase sempre uma tendência mórbida de enfraquecer.
Sabia que os amigos eram de hoje, que amanhã não os teria mais, iam embora, alguns por casar, outros apenas por ir. Os de trabalho sumiriam assim que ele fosse demitido, como sumiram os de escola e universidade quando se formou. Como sumiram os de ontem.
Tinha ainda os familiares, mas eram apenas familiares, e família é outorgada, não se escolhe. Não tinha laço qualquer de amizade com alguém de mesmo sangue ou quase.
Ora sentia-se culpado por tudo isso, pela solidão que lhe fitava como um encosto oriundo de macumba. Ora culpava essa necessidade inefável de coisas infalíveis. Aparentemente tinha amigos. Sim! Mas ainda assim sabia que caso parasse para analisar, veria que no fundo eram apenas amizades cotidianas, obrigadas pela convivência, veria que no fundo sequer eram amizades.
Por vezes imaginava se haviam níveis de amizade, não lhe agradava muito a idéia, mas e se houvessem? Se talvez ele buscasse o quase utópico nível-maior e não se contentasse com níveis amenos?
Era de sua natureza ser exigente, ter expectativas, fantasiar. Outros diriam que era culpa dos astros, que era por seu signo. Achava sempre muito cômodo culpar a astrologia ou mitologia. Era coisa sua, estava nele, podia sentir.
Certa vez disseram-lhe que nascemos com almas parciais, não pela metade que seriam completadas com amores, mas com pedaços pequeníssimos, necessitados de muitos outros pedaços, que cada pessoa que encontrássemos contribuiria para completar nossas almas.

Na melhor das hipóteses, pensava, teria nascido com a alma completa.

(Lalo Oliveira)

Um comentário:

Pinho disse...

oi Gadê,
cá estou a cumprimentá-la pelo seu "cantinho".

imagino o mundo dos blogueiros como se fora uma barraquinha numa dessas feiras movimentadíssimas.... há aqueles que se aproximam, olham... e se vão e nunca mais voltam! e há tb aqueles que encontram ali naquele espaço o que procuram... simples assim! e sempre que vão à feira, passam por aquela barraca... rs.

não sou barraqueiro... mas sou frequentador da feira.. e adorei aqui!

já etá ali nos meus favoritos.

zanzei por seu espaço... e gostei de tudo o que vi! parabéns Gadê!, aliás, Júlia Gadêlha! lindo isso! (minha filha mais "velha" tb é Julia)... sem esse detalhe do "acento"... rs

bem... chega de tomar seu tempo!

tenho algumas outras (poucas) barracas a visitar.

beijos Gadê!