quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Humanos, nós?

É vergonha, pura e feroz, o que me dilacera. Vergonha de ser ser humano. Essa raça podre e egoísta que domina o mundo e da qual eu, talvez devido à pior das piores maldições do Egito, fatalmente pertenço, sendo igualmente desmerecedor de qualquer gesto que faça lembrar um sentimento. Deus não está do nosso lado, a criação outrora realizada já se perdeu nos buracos negros do passado e nós não somos, nem através dos olhos mais cegos, aquilo que uma divindade sonhou. Não pense vós que o que me acomete agora é simplesmente uma furiazinha tola, uma má constatação ou, para os incapazes de ver mais do que um palmo à sua frente, simplesmente falta de amor. Essa onda de certeza que bate vem de uma constatação simples como a de que o céu é azul e as mulheres melhores que os homens. É só olhar para dentro de si e ver o suspiro curto da alma se afogando em tanta lama. Logo a alma, ultimo raio de sol para nós podermos voltar como seres morais e dignos do significado verdadeiro da palavra “pessoa”, morre para que no seu trono sente-se majestoso esse produto criado pela sociedade.
Uma lágrima rola sim, não lamuriando o fato de eu pertencer à humanidade, mas para servir como prova de que minha vergonha vem de cada gota de sangue que um humano fez escorrer em outro, cada humilhação lançada à outra pessoa esta contida nessa lágrima, cada dor e desprezo que nós temos por nós mesmos. É uma lágrima densa, superior à esfera anterior ao Big-Ban, gerador desse mundo gentil, acolhedor da própria peste que o destrói. Hei sozinho indagar sobre qual rumo tomei, que erro cometi para não poder ter nascido planta ou bicho...
Animais não matam uns aos outros para subirem em tronos, árvores nunca se vingam, bactérias não têm ideologias que as fazem pensar superiores, no dever de exterminar o que não lhes é semelhante, não há holocausto em colônias de formigas nem imperialismo entre as cobras mais venenosas. Somos nós a ovelha negra da natureza. Os cegos me ensinaram. Ensinaram que para ver, não basta ter os olhos abertos, mas também a mente.Uma pena de mim que sinto, e de todos os outros que são como eu, pobres coitados nós, nascidos com o duro fardo de sermos gente, coisa fétida e diminuta.Que esperança se há de ter?

(Anderson Pereira Santiago)

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