"Fiquei um tempo sem me mexer, mesmo sabendo que ela sofria, que pedia em súplica, que mendigava afeto. Tentei arrumar (foi um esforço) sua imagem remota, iluminada, provocadoramente altiva, e que agora expunha anuca a um golpe de misericórdia. E ali, do outro lado da mesa, minha mulher apertava as mãos, e esperava. interrompi o rabisco e escrevi sem pressa: ' não tenho afeto para dar', não cuidando sequer de lhe empurrar o bloco de volta, mas nem foi preciso , sua mão, com a avidez de um bico, se lançou sobre o grão amargo que eu, num desperdício deixer escapar entre os dedos."
(Raduan Nassar)
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