sexta-feira, 19 de março de 2010



"O poeta é um abstrator de quinta essências líricas. É um sujeito que sabe desentranhar a poesia que há escodida nas coisas e nas palavras, nos gritos, nos sonhos. A poesia que há em tudo, porque a poesia é o éter em que tudo mergulha, e que tudo penetra.

O poeta muitas vezes se delicia em criar poesia, não tirando-a de si, dos seus sentimentos, dos seus sonhos, das suas experiências, mas "desgangarizando-a", como disse Couto de Barros, dos minérios em que ela jaz sepultada (...)

Há quem censure o poeta por isso. Não me parece avisada tal atitude: a poesia é como o rádium - o milésimo de miligrama constitui uma riqueza que não se deve deixar de perder."

(Poema Desentranhado, in Flauta de Papel, 1957)

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