quarta-feira, 28 de abril de 2010

‘Isso Karina era, era braba sim, agora braba mesmo ela ficou foi naquela noite em que Antônio se esqueceu de fazer de conta que era que era o personagem e o beijo saiu de verdade, logo no início do ensaio: “Será que não dá pra entender como é que é um beijo de novela, meu Deus?” E Antônio respondeu: “Dá demais. Um personagem que não sou eu vai usar a minha boca pra beijar um personagem que usa a sua boca, mas não é você. Eu tenho que sentir o personagem aqui dentro, sentir o amor dele, ter vontade por ele, mas na horinha mesmo eu tenho que deixar de ser ele e voltar a ser eu pra poder me lembrar que esse é um beijo de novela e quem está beijando não sou eu, é ele.”
E com essa explicação provou que, entender, tinha entendido, só não achava justo, pois o único beneficiado na história era o tal do personagem.
Mesmo assim, só pra mostrar que tinha decorado seu papel, Antônio ainda tentou outras vezes olhar no meio dos olhos de Karina, sentir um amor que não era seu, dizer eu te amo, Guadalupe, e dar um beijo de novela em Guadalupe pela boca de Karina. Tentar, tentou, mas lhe parecia tão impossível que quase ia confessando: “Que eu te amo eu decorei faz tempo, Karina, que tu é Guadalupe é que não tem jeito de eu decorar.” ‘

Adriana Falcão ( Trecho do livro 'A Máquina' )

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