quinta-feira, 22 de abril de 2010

Nascido assim.

Nascido assim, nisso.
Como o giz de faces sorridentes.
Como a senhora morte às gargalhadas.
Como as paisagens políticas dissolvidas.
Como o peixe oleoso cuspido fora de sua oleosa vítima.
Nós nascemos assim, nisso.

Nos hospitais que são tão caros. Que são baratos para morrer.
Com advogados que cobram muito.
É mais barato pleitear a culpa num país onde as cadeias estão cheias, e os hospícios estão fechados.
Num lugar onde as massas elevam idiotas em heróis ricos.

Nascido nisso.
Andando e vivendo dentro disso.
Morrendo por causa disso.
Castrado, corrompido, deserdado por causa disso.
Os dedos se estenderam para um Deus irresponsável.
Os dedos alcançaram a garrafa, a pílula, o poder.

Nos nascemos nessa triste linha de morte.
Lá estará aberto e impunível assassinato nas ruas.
Será armas e multidões passageiras.
A terra será inútil.
A comida terá um retorno mínimo.
O poder nuclear será tomado por muitos.
As explosões continuarão balançando o mundo.
Homens radioativos comerão a carne dos homens radioativos.
O corpos apodrecidos do homem e dos animais vão feder no vento da escuridão.
E lá estará um bonito silêncio nunca ouvido.

Nascido fora disso.
O sol escondido estará . . . a espera do próximo capítulo.

(Charles Bukowski)

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