terça-feira, 4 de maio de 2010


E quanto mais longe da infância e mais perto do presente, tanto mais as alegrias que vivera lhe pareciam insignificantes e vazias. A começar pela faculdade de Direito. Nela conhecera alguns momentos realmente bons: o contentamento, a amizade, as esperanças. Nos últimos anos, porém, tais momentos já se tornavam raros. Depois, no tempo do seu primeiro emprego, junto ao governador, gozara alguns belos momentos: amara uma mulher.
Em seguida tudo se embrulhou e bem poucas eram as coisas boas.
Para adiante, ainda menos. E, quanto mais avançava, mais escassas se faziam elas. Veio o casamento, um mero acidente (...), a desilusão, a hipocrisia.
E a monótona vida burocrática, as aperturas de dinheiro, e assim um ano, dois, dez, vinte, perfeitamente idênticos. E, à medida que a existência corria, tornava-se mais oca, mais tola.

É como se eu tivesse descendo uma montanha, pensando que a galgava.
Exatamente isto. Perante a opinião pública, eu subia, mas na verdade, afundava.
E agora cheguei ao fim – a sepultura me espera.

Leon Tolstoi
[A morte de Ivan Ilitch]

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