terça-feira, 28 de dezembro de 2010


"E minhas questões pessoais continuavam tão más e lamentáveis quanto no dia em que nasci. A única diferença era que agora eu podia beber de vez em quando, embora nunca o suficiente. A bebida era a única coisa que impedia um homem de se sentir para sempre atordoado e inútil. Todo o resto ia furando e furando sua carne, arrancando seus pedaços. E nada tinha o menor interesse, nada. As pessoas eram limitadas e cuidadosas, todas iguais. E eu teria que viver com esses fodidos pelo resto da minha vida, pensei. Deus, todos eles tinham cus e órgãos sexuais e bocas e sovacos. Cagavam e tagarelavam, e todos eram tão inertes quanto esterco de cavalo. As garotas pareciam legais a certa distância, o sol resplandecendo em seus vestidos, em seus cabelos. Mas vá se aproximar e ouvir seus pensamentos escorrendo boca afora, você vai sentir vontade de cavar um buraco ao sopé de uma colina e se entrincheirar com uma metralhadora. Eu certamente nunca conseuigira ser feliz, me casar, nunca teria filhos. Inferno, eu nem mesmo conseguia um emprego como lavador de prato.

Talvez eu pudesse me tornar um ladrão de banco. Alguma coisa bem fodida. Alguma coisa flamejante, fogosa. Só se vive uma vez. Por que ser um limpador de vidraças?

Acendi um cigarro e segui descendo a lareira. Será que eu era a única pessoa que perdia tempo pensando nesse futuro sem perspectivas?"



Charles Bukowski.

Um comentário:

(?) disse...

Grande Bukowski! Como sempre, tão sincero! Adoro seus textos, livros...
Embora cruel, é a realidade! Tantas pessoas metódicas, limitadas, hipocritas. Fico feliz que existem pessoas que fazem a diferença!

Vou lher seguir, ok? Adorei o blog!
Se quiser dar uma passadinha no meu...
Feliz ano novo!

iinwonderland.blogspot.com