quinta-feira, 19 de maio de 2011


Certa vez eu pensei que havia sido ferido como nenhum outro homem jamais tivera sido. Por sentir isso, eu prometi a mim mesmo escrever esse livro. Mas bem antes de começá-lo, a ferida havia sido curada. Já que eu havia feito a promessa eu reabri a terrível ferida.
Em outras palavras...Talvez ao abrir a ferida, minha própria ferida, eu tenha fechado as feridas de outras pessoas. Algo morre, algo floresce. Sofrer na ignorância é terrível. Sofrer deliberadamente, para entender a natureza do sofrimento e aboli-lo para sempre, é outra coisa. Buda teve um pensamento fixo em sua vida, como sabemos. Eliminar o sofrimento humano.
Sofrer é desnecessário. Mas a pessoa deve sofrer antes de poder perceber isso. É apenas então, aliás, que o verdadeiro significado do sofrimento humano fica claro. No último desesperador momento - quando a pessoa não pode sofrer mais! - acontece algo que é como um milagre. A grande ferida aberta que estava sangrando o sangue da vida se fecha, e o organismo floresce como uma rosa. A pessoa está "livre" afinal, e não "com um anseio pela Rússia", mas com um anseio por sempre mais liberdade, sempre mais satisfação. A árvore da vida é mantida viva não por lágrimas mas pela sabedoria de que a liberdade é real e eterna.

Henry Miller.

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