quinta-feira, 27 de outubro de 2011

 
Boca: nunca te beijarei.
Boca de ouro, que ris de mim,
no milímetro que nos separa
cabem todos os abismos.

Boca: se meu desejo
é impotente para fechar-te,
bem sabes disto, zombas
de minha raiva inútil.

Boca amarga pois impossível,
doce boca (não provarei),
ris sem beijo para mim,
beijas outro com seriedade.


(Carlos Drummond de Andrade in: Brejo das Almas - 1934)

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