quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Cidadela.


"Começamos a sentir mêdo. Não tanto por nós próprios como pelo objeto dos nossos
esforços. Por aquilo em que nos transformamos ao longo da vida. Eu era cinzelador e comecei a temer pelo grande gomil de prata em que trabalhava havia já dois anos. Tinha trocado dois anos de vigília por êle. Havia outro que tremia pelas tapeçarias de lã farta, que tinha tecido com alegria Todos os dias a desenrolava ao sol. Estava orgulhoso de ter trocado qualquer coisa da sua carne encarquilhada por esta vaga que a princípio parecia profunda. Um outro teve mêdo por causa das oliveiras que havia plantado. E eu estou em crer que nenhum de nós temia a morte; todos tremíamos por causa de pequenos objetos estúpidos. Descobríamos que a vida não tem sentido se não nos trocamos pouco a pouco. A morte do jardineiro não é coisa que valesse uma árvore. Mas, se tu ameaças a árvore, então o jardineiro morre duas vêzes."


Antoine de Saint-Exupéry.

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