sexta-feira, 9 de abril de 2010

De uma carta a George W.Eveleth

4 de janeiro de 1848
New York

(...)
Você diz:"Você pode me dar uma idéia de qual foi o terrível infortúnio que causou os distúrbios tão profundamente lamentados?". Sim, posso dar mais que uma idéia. Este "infortúnio" foi o maior que pode se abater sobre um homem. Seis anos atrás, uma esposa, a quem amei como nenhum homem jamais amou, rompeu um vaso sanguíneo durante o canto. Sua vida foi dada por perdida. Me despedi dela para sempre e passei por todas as agoias de sua morte. Ela se recuperou parcialmente e de novo tive esperança. Ao final de um ano o vaso partiu-se novamente - passei exatamente pelo mesmo drama. Novamente cerca de um ano depois. Então de novo - de novo - de novo e ainda mais uma vez a intervalos variados. Todas as vezes eu sentia todas as agonias de sua morte - e a cada acesso do do distúrbio a amava com maior ternura e me aferrava à sua vida com mais desesperada pertinácia. Mas sou constitucionalmente sensível - nervoso em um grau bastante incomum. Fiquei louco, com longos intervalos de terrível lucidez. Durante estes acessos de absoluta inconsciência bebi, só Deus sabe com que frequência ou em que quantidade. Naturalmente, meus inimigos atribuíram a insanidade à bebida e não abebida à insanidade. Tinha realmente quase abandonado qualquer esperança de uma cura permanente quando encontrei uma na morte de minha esposa. Isto posso e de fato suporto como cabe a um homem - era a interminável e terrível oscilação entre esperança e desespero que eu não conseguia mais suportar sem a perda total da razão. Na morte do que era a minha vida, então, recebi um novo golpe - ó Deus! como é triste uma existência.
(...)

Atenciosamente Seu -
E.A.Poe.

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